segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Operação Ágata, por Heitor Freire


Nós estamos vivendo tempos de guerrilha urbana nos grandes centros do nosso país. O crime dito “organizado” e que é organizado mesmo está dando de dez a zero em nossas autoridades.
Os mais elementares códigos de estratégias militares ensinam claramente que as operações devem ser muito bem estudadas, preparadas, treinadas e basicamente não serem divulgadas, que sejam secretas. Elas não podem ser divulgadas sob pena de passar para os inimigos toda a inteligência que foi preparada para enfrentá-los.
Quando foi anunciada a Operação Ágata, que envolve nada menos do que o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, a Policia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Militar, com a participação da Agência Brasileira de Inteligência, Abin, o Ibama e a Secretaria Estadual de Justiça, a Receita Federal e a Força Nacional de Segurança, o general Valério Stunff Trindade, com a presença dos representantes das forças acima mencionadas, detalhou para a imprensa todo o plano, quais equipamentos serão utilizados, quantos homens do exército, quantos da marinha, quantos da aeronáutica, ou seja, entregou todo o ouro aos bandidos.
Eu não consigo entender o que motiva as nossas autoridades a divulgar tudo o que se está preparando para enfrentar o crime organizado.
Só para efeito de comparação imaginem o que aconteceria com as forças aliadas no desembarque na Normandia na Segunda Guerra Mundial se o general Eisenhower, comandante supremo das forças aliadas, resolvesse dar uma coletiva informando e detalhando toda a operação que seria deflagrada.
Morreriam todos na praia. Essa operação denominada Operação Overlord, envolveu inicialmente, 155 mil homens que desembarcaram nas praias da Normandia, debaixo do maior quieto. Os homens souberam entender a importância de manter em segredo toda a movimentação para que a operação fosse coroada de êxito.
Estratégia deriva do grego strategía: que é a arte militar de planejar e executar movimentos e operações de tropas. A estratégia era vista como a arte do general. A estratégia militar lida com o planejamento e a condução de campanhas, o movimento e a divisão de forças, e a burla do inimigo. O que não se está cumprindo nesta operação.
A Arte da Guerra de Sun Tzu, entre outros temas, trata da formação, uma das questões mais importantes da estratégia e do combate. Numa postura caracteristicamente taoísta, Sun Tzu declara que o segredo para a vitória são a adaptabilidade e a inescrutabilidade. Como o comentador Du Mu explica: "A condição interior do informe é inescrutável, enquanto que a daqueles que adotaram uma forma específica é claramente manifesta.
O inescrutável vence, o manifesto perde." Neste contexto, a inescrutabilidade não é meramente passiva, não significa apenas afastar-se ou esconder-se dos outros; significa, sim, a percepção do que é invisível aos olhos dos outros e a reação a possibilidades ainda não percebidas por aqueles que só observam o manifesto. Discernindo oportunidades antes que sejam visíveis aos outros e agindo com rapidez, o misterioso guerreiro pode tomar conta da situação antes que as coisas se escoem por entre os dedos.
O rei Salomão, há 2.900 anos, com muita sabedoria ensinou no Livro dos Provérbios, capítulo 1, versículo 17: “Não adianta armar o alçapão, quando o passarinho está olhando”.
Naturalmente uma operação dessa natureza, como a Operação Ágata, com a finalidade de combater e vencer o crime organizado, é muito bem vinda. É necessária e útil. Mas com o estardalhaço da sua divulgação, vejo que todo o seu objetivo pode ficar comprometido, o que se confirma pelo resultado pífio da operação até agora. Espero que nas próximas operações as nossas autoridades ajam da forma preconizada pelos manuais e orientações específicas da matéria.
O combate ao crime é uma prioridade absoluta. Não se pode permanecer mais de braços cruzados ante tanta ousadia dos bandidos. O princípio da estratégia militar é manter segredo até que seja tarde para o oponente reagir. O segredo é uma informação valiosa, que se for tornada pública, pode comprometer o sucesso da operação. O elemento surpresa é fundamental.
Podemos citar como exemplo as operações da Polícia Federal, que só são anunciadas depois de tomar todas as providências: quando os bandidos acordam já estão algemados.
Proponho que, de agora em diante, seja esse o procedimento adotado, para o sucesso dessas operações.
(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

E se a polícia dormir?

Mais uma vez me deparo com um artigo que usa parte da matemática para comprovar que a polícia brasileira é assassina por natureza, seja por sua inabilidade no trato com a violência ou pela herança do regime militar. Neste caso, a estatística é uma excelente ferramenta para provar o que se quer dizer, seja lá o que for, especialmente quando os números surgem num país que não apresenta um sistema de dados completo e integrado, e aquele que existe é difícil de mapear, conforme relata o próprio artigo.


“Mais do mesmo!”, pensei, ao ler o artigo denominado “Polícia mata uma pessoa no Brasil a cada cinco horas”, publicado no site da FENAPEF em 25/07/2011, e que parece demonizar a atividade policial brasileira. A mesma polícia a quem todos recorrem quando são vitimados pelo crime e pela violência. A mesma polícia que é obrigada a mediar conflitos quando cada uma das partes acha que tem plena razão. A mesma polícia que procura, apesar dos contratempos, do estigma e do desânimo, zelar pela segurança alheia e pela democracia.
A ideia de que a polícia mata uma pessoa a cada cinco horas, perfazendo 141 homicídios por mês ou 1.693 assassinatos ao ano, segundo o texto, dá a entender que a polícia brasileira é uma máquina maquiavelicamente criada e cronometrada para matar quem quer que esteja em seu caminho na hora fatídica. Os termos “pessoa morta”, “assassinatos”, “violência”, “mortes”, “acobertar”, “execuções”, “ocultando o cadáver” e “letalidade” usados no texto sugerem que a polícia talvez seja a única e verdadeira culpada pelos problemas de violência no país.
Infelizmente, a estatística e o cruzamento dos dados do Ministério da Saúde e das ocorrências policiais que fundamentaram o texto não foram capazes de clarificar quantas mortes foram provocadas em confrontos armados reais; quantos dos mortos eram criminosos que reagiram à ação policial; quantos tinham antecedentes criminais, quais ocorrências podiam ser solucionadas sem o uso da força letal e quais os resultados nefastos a atividade criminosa produziria se não fosse a intervenção policial.
Da forma como os dados foram apresentados, parece que a polícia matou apenas pessoas inocentes. Essa ideia é corroborada pela frase "Pelo menos 1.791 pessoas já perderam a vida pelas mãos dos homens fardados." Mas quem são estas 1.791 pessoas? São criminosos ou são inocentes? A estatística não diz e o artigo também não.
Apesar de serem pessoas, os criminosos que reagem à ação policial assumem o risco de matar, serem presas, feridas ou morrer. Mas porque algumas pessoas pensam que é sempre o policial quem tem que perder o confronto? Porque o policial jurou sacrificar a própria vida em benefício do próximo? Conversa mole! A polícia tem que vencer! Seja nas investigações, seja nas buscas, nas prisões ou nos confrontos armados legítimos, a polícia tem que vencer. Obviamente, essa ideia não condiz com a realidade, pois os criminosos também querem vencer, mesmo que tenham que matar inocentes, policiais, homens, mulheres, idosos, jovens, crianças, bebês, pais, mães, filhos, etc. A estatística não informa quantas pessoas foram mortas pelas mãos dos homens encapuzados. Do mesmo modo, o artigo. Também não diz quantos policiais foram mortos ou feridos durante o trabalho e nas horas de folga.

O artigo trás um dado mais que conhecido: "70% dos mortos são jovens de 15 a 29 anos." Para quem assiste os noticiários da TV não é novidade ver crianças de 13 anos fumando maconha, furtando badulaques ou roubando carros. Portanto, à medida que envelhece e adquire experiência, o jovem criminoso se qualifica para ações mais violentas e ousadas. Portanto, confrontar a polícia faz parte da dinâmica do jovem delinquente, assim como confrontar as leis e a sociedade. O bandido até poderia morrer de velhice se não fosse o risco da profissão, dos acertos de contas entre desafetos, e a intervenção da polícia na tentativa de realizar sua prisão para levá-lo à justiça. Além disso, todo policial sabe que a terceira idade de todo criminoso começa aos 35 anos. E a estatística também não traça o perfil da vítima; nem o artigo.

Assim, a morte desses jovens não pode ser creditada inteiramente à polícia, visto que o próprio Ministério da Saúde informa que “Na faixa etária de 15 a 19 anos, as agressões (homicídios) caracterizam-se como a principal causa de morte, superando todas as outras formas de morte violenta e todas as enfermidades, gerando, em 2001, um total de 9.908 óbitos (7.041 entre os homens e 590 entre as mulheres). Nesta faixa etária, o risco de morte dos homens foi 11,8 vezes o risco das mulheres.” (Ministério da Saúde, 2004).

Mas ainda ficam algumas dúvidas: quem eram esses jovens? Com quem eles se relacionavam? Onde eles moravam? Onde eles estavam no momento do crime? Como foram as circunstâncias das mortes? Quando e em que horário eles foram mortos? Para responder essas perguntas, recorro, novamente, aos noticiários da TV e dos jornais locais. Creio, inclusive, que você também já tenha traçado um perfil da maioria das vítimas. Então, imagino que eram jovens do sexo masculino, sem ocupação fixa, integrantes de famílias de baixa renda, moradores de locais reconhecidamente violentos, que mantinham relações com criminosos locais ou eram parceiros destes delinquentes, que deviam dinheiro ou eram desafetos destes, que foram assassinados perto de casa durante o período noturno. É possível que neste universo haja vítimas inocentes de maus policiais? Claro que sim! Mas não é a maioria. E qual o perfil dos algozes destes jovens? É o mesmo perfil de grande parte das vítimas. Por isso, você já deve saber que as vítimas de amanhã serão os criminosos de hoje. Isso é pura lógica.

Na sequência, o texto publica uma opinião de que a polícia oculta cadáveres ou elabora autos de resistência para dissimular as execuções que pratica. Isso pode ser verdade? Claro que pode! No entanto, mais uma vez, a estatística e o artigo não informam quais óbitos resultaram de confrontos legítimos e quais foram forjados. Na vala comum dos dados, o texto insinua que as mortes ocorreram em circunstâncias ilegais. O texto só não diz que o Auto de Resistência é uma demanda do artigo 292 do Código de Processo Penal.

Contudo, talvez haja alguma explicação para a suposta letalidade da polícia brasileira. Listarei algumas:

1) Já que os criminosos não querem ser presos e nem respeitam a autoridade, eles reagem com mais frequência forçando a polícia a escalar o nível de força;
2) Criminosos morrem em maior quantidade porque são mal preparados nas técnicas de tiro;
3) Os criminosos morrem em maior número porque a polícia não está tão mal preparada;
4) Os criminosos morrem mais porque existem aproximadamente 700.000 policiais civis, federais, rodoviários federais, militares e guardas civis no Brasil trabalhando contra o crime e a violência diariamente. Então, 1.693 óbitos anuais representariam 0,24% do possível potencial de letalidade desta força de segurança. Além disso, levaria 413 anos para que a força policial alcançasse 100% deste potencial, considerando que cada policial precisasse usar a força letal ao menos uma vez durante a carreira. Mesmo considerando apenas o efetivo das polícias militares e civis, o potencial de letalidade ainda seria pequeno.

Mas, afinal, a polícia brasileira mata mais ou prende mais? Considerando os dados do Ministério da Justiça referentes à população carcerária no Brasil em 2010 (496.251 presos), pode-se afirmar que a polícia prende mais, pois 496.251 presos para 700.000 policiais representam 70,89% do potencial de trabalho sem violência da força policial, considerando que durante um ano cada criminoso tenha sido preso por apenas um policial. E não é só isso! A cada ano a população carcerária aumenta numa proporção maior que os óbitos provocados pela polícia. Só para você ter uma noção, de 2000 (232.755 presos) a 2010, a população nas unidades prisionais cresceu 113,20%. Além disso, outro relatório do Ministério da Justiça informa que as polícias militares e civis brasileiras prenderam 4.838.345 criminosos em virtude de delitos em flagrante, mandados de prisão e recaptura em 2007. O número de presos, eu repito, foi de 4.838.345. E você sabe quanto representa a morte de 1.693 pessoas (supostamente atribuídas aos policiais brasileiros) em relação ao total de presos? 0,03%.

Alguém ainda pode afirmar que é inadmissível a morte de uma pessoa sequer. Concordo! Entretanto, também é inaceitável a morte de um policial ou de cidadão inocente, do mesmo modo como é inaceitável que alguém morra no trânsito, na maca de um hospital ou durante o trabalho. Infelizmente, é como tudo acontece.

Outro número que você não encontra no artigo é das 2.022.896 ocorrências registradas pelas polícias civis referentes aos crimes perpetrados pelos delinquentes brasileiros no ano de 2005, conforme dados do Ministério da Justiça. E ainda existem os casos não registrados.

Antes de finalizar, é importante relembrar o que já disse no artigo “Por que policiais portam armas?”: “... é necessário um equilíbrio delicado entre a autoconfiança na capacidade de usar a força letal, se for preciso, e o desejo desenfreado de QUERER usar esta força. Este equilíbrio deve alcançar os novos alunos das academias de polícia quando treinados no uso da força letal, pois a polícia precisa de profissionais capazes de atirar sem hesitação, mas que preferem que isso nunca aconteça, tanto quando deve atingir aquelas pessoas que querem matar e vivem para ver este dia chegar. É preciso se LIVRAR deste tipo de pessoa também.”

Agora, e se ao invés de trabalhar em prol do país, o policial decidir correr menos riscos e tirar uma soneca? Bem! Talvez você leia outro artigo informando o crescente número de furtos, roubos, extorsões, roubos seguidos de mortes, sequestros, estupros, homicídios dolosos, tráfico de entorpecentes, maus-tratos, dano, estelionato, fraudes, receptação, etc.
 
Fontes:
http://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/34234
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/saude_brasil_2004.pdf
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRIE.htm
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMIDD6879A43EA3B4F1691D2CAFD1C9DDB19PTBRIE.htm
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMIDDBAD310EDF8442E2A21D7EF680172592PTBRIE.htm
Humberto Wendling é Agente de Polícia Federal e Professor de Armamento e Tiro lotado na Delegacia de Polícia Federal em Uberlândia/MG.
E-mail: humberto.wendling@ig.com.br
Blog: www.comunidadepolicial.blogspot.com

sábado, 24 de setembro de 2011

Amor puro e desinteressado!


Um casal está jantando num exclusivíssimo restaurante, quando entra uma loura estonteante e, se aproximando da mesa, dá um beijo no marido e lhe diz:

- Depois a gente se vê, ok? E vai embora.

A esposa olha para o marido com olhos esbugalhados e diz:

- Você pode me explicar que diabo é essa?

- É a minha amante..., responde o marido calmamente.

- Ah, não! Essa é a gota que transbordou o copo! Quero o divórcio já! Vou contratar o melhor advogado e não vou parar até te destruir.

- Te entendo, querida. - Diz o esposo com total tranqüilidade - Mas leva em conta que se nos divorciarmos não haverá mais nada para você: nem viagens à Cortina D'Ampezzo, nem cruzeiros pelo Caribe, nem um BMW novo a cada ano na garagem, nem restaurantes exclusivos... e você vai ter que sair da mansão de 26 cômodos que tanto esfrega na cara das tuas amigas porque eu vou te comprar uma casa bonita, mas muito menor. Isso sem mencionar que se pensa contratar um advogado tão bom, os honorários vão te comer a metade do pouco que consiga tirar de mim... porque você bem sabe que eu não sou bobo e advogados "feras" é o que mais tenho nas minhas várias empresas. Mas, enfim, a decisão é sua...

Nesse momento, entra no restaurante um amigo do casal, acompanhado por uma morena deslumbrante.

- Quem é aquela atirada que está com o Sérgio? Pergunta a esposa.

- É a amante dele.

- Ah!! A nossa é bem mais bonita, né amoooor?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Celular ao volante - O risco de falar ao telefone e dirigir é muito maior do que você pode imaginar

São Paulo, bairro da Lapa, agosto de 2006, 7h15 da manhã. A caminho da casa da mãe, a professora Fátima Maria Moraes, de 48 anos, não podia imaginar que dali a poucos instantes seu dia estaria praticamente perdido. Enquanto dirigia, o celular tocou. O aparelho não estava a seu alcance, e sim dentro da bolsa, no banco de passageiro. Quando Fátima tentou alcançar o telefone, sentiu o baque da dianteira de seu Fiesta Street estampando o porta-malas de um táxi. “Posso me lembrar de que era uma chamada de minha mãe, mas não do que aconteceu naquele momento. Ainda bem que ninguém se machucou.” Sorte também foi ter o carro segurado. Do contrário, a professora desembolsaria 5000 reais para pagar os prejuízos. O susto levou Fátima a mudar seus hábitos. Agora, quando o celular toca, diz ela, estaciona o carro ou verifica quem ligou para retornar depois. “Antes eu só pensava na multa que receberia. Agora avalio a real razão do problema, a segurança”, afirma.


Desaceleração

Com o celular no ouvido, o motorista reage de forma mais lenta. Dificilmente olha para o retrovisor, assume uma trajetória errática na via e reduz ou ultrapassa a velocidade compatível com o tráfego. Avança o sinal, tem dificuldade para trocar marchas e simplesmente não vê as placas de sinalização no trânsito. Cada uma dessas situações já poderia desencadear um acidente. Agora imagine o potencial da combinação delas. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), por meio do artigo 252, considera o uso do celular infração de natureza média e estabelece multa de 85,13 reais e 4 pontos na carteira de habilitação.

“Os motoristas sabem que se trata de uma infração, mas insistem em atender ao telefone por acreditar que isso não é nada de mais e vão desligar logo. A atitude pode mudar quando as pessoas reconhecerem que o que está em jogo é a vida delas e as de outras pessoas”, afirma o sociólogo e especialista em trânsito Eduardo Biavati.

Os números comprovam a tese de Biavati. Na cidade de São Paulo, dirigir falando ao celular, em 2007, ocupou a quarta posição entre as infrações mais cometidas pelos motoristas. Foram 253000 multas, ou 6% do total de infrações, um aumento de 13% no total de multas aplicadas em comparação a 2006. E, no Rio de Janeiro, as mulheres são as que mais telefonam ao volante. Para cada 1000 habilitados do sexo feminino, há 11 infrações cometidas de uso do celular, contra oito do sexo masculino para cada 1000, de janeiro a outubro deste ano, ou 27,3% a menos.

Em 2003, em reportagem de André Ciasca, QUATRO RODAS comprovou que dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo compromete a atenção do motorista. No teste, seis pessoas dirigiram no autódromo de Interlagos, em São Paulo, e cinco delas atropelaram um boneco simulando um pedestre. Decidimos refazer a prova, mas em condições especiais. Para isso, convidamos a equipe do Laboratório de Usabilidade do Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI), que convocou 15 voluntários, com idades entre 19 e 34 anos, para um exame diurno, reproduzindo uma situação de trânsito.

Cada motorista dirigiu o carro por um trajeto definido, com placas de sinalização de trânsito e obstáculos (veja infográfico na pág. 113). Durante o percurso, os voluntários recebiam uma ligação e atendiam encostando o aparelho no ouvido. Em seguida, faziam o mesmo percurso, mas com o recurso de viva-voz. O objetivo do teste era descobrir as falhas de quem utiliza celular ao volante e as possíveis distrações.

O trecho percorrido foi preparado pela equipe da FEI, que também acompanhou o trajeto a bordo, filmou todos os detalhes e anotou observações sobre cada um dos participantes. Ao voltar do teste, cada um respondeu a um novo questionário em que admitiu – ou não – se houve atenção para realizar as duas tarefas ao mesmo tempo.

Algo curioso acontecia antes mesmo de o voluntário girar a chave para dar partida no carro: estar crente de que se tratava de uma atividade fácil, como o estudante Tom Mix Martini Petrecia, de 21 anos. “Não é tão complicado fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Eu sei que não é permitido, mas não vejo problemas”, disse, minutos antes do teste.

Ele está longe de ser uma voz solitária. Mas, se a pergunta é feita de maneira isolada, as pessoas se mostram mais conscientes. Em enquete no site www.quatrorodas.com.br, realizada entre os dias 4 e 17 de novembro, 88% dos 1398 participantes disseram “Sim” para a pergunta “Você acredita que dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo possa oferecer algum perigo no trânsito?”

O voluntário Fernando José Gancelli Lima de Azevedo, de 23 anos, confirmou a percepção dos internautas após a prova na pista. Durante o teste, dirigiu em velocidade mais alta que a permitida, não respeitou a placa de “Pare” e atropelou as bolas, que eram os obstáculos do teste lançados na pista. Além disso, em vários momentos do trajeto ficou sem as mãos no volante. Após o ensaio, declarou: “Não prestei atenção nas placas. Definitivamente, traz riscos à segurança”.

O motorista está usando a audição e não a atenção dirigida para guiar o carro, afirma o neurologista Eduardo Genaro Mutarelli. “Dizer que é fácil fazer as duas coisas ao mesmo tempo não é verdade: o cérebro precisa fazer contas, calcular ações e desviar a atenção do controle visual e motor para o auditivo. As reações ficam mais lentas e isso propicia a ocorrência de acidentes. A audição é decodificada em uma área no cérebro e a visão, em outra. Ele faz duas coisas quando deveria fazer uma só”, diz Mutarelli. Quando dirigimos falando com alguém ao lado, também há risco, com a diferença de que o acompanhante pára de falar ao perceber um perigo iminente.

Durante o teste, o estudante Leandro Valência Alves, de 20 anos, tirou as mãos do volante para explicar onde ficava o endereço que a pessoa do outro lado da linha requisitou, manteve o celular no colo durante o teste do viva-voz e atropelou as bolas nas duas vezes que foram lançadas. “O teste comprova que o motorista não presta atenção nas placas, não utiliza os retrovisores e deixa de usar seta”, disse o professor e pesquisador Plínio Thomaz Aquino Júnior, coordenador do Laboratório de Usabilidade da FEI.

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"Depois do teste, percebi que dirigir falando ao celular pode ser tão perigoso quanto dirigir alcoolizado.” Raphael Yoshio Shimizu, 20 anos, estudante

Atenção afunilada

O celular tocando desvia a atenção de quem está guiando e dá início ao procedimento de risco: a primeira ação do motorista quando o aparelho toca é procurá-lo. Para atender, será necessário o uso de uma das mãos. Se for colocado no ouvido, haverá restrição do campo visual.

A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) realizou um estudo com voluntários falando ao celular com viva-voz. Além dos fatores operacionais envolvidos, como os citados acima, existem os não-operacionais. Entre eles estão os psicológicos – como as emoções às quais o motorista pode ser submetido numa conversa, por exemplo, quando recebe uma má notícia – e os cognitivos – como alterações causadas por tarefas de elaboração e compreensão de frases, audição do que é falado e do toque do telefone, além do aspecto motor da fala, que se altera quando realizada em conjunto com outras tarefas complexas, como dirigir. “Durante o teste, concluímos que o tempo de reação do motorista ao celular aumenta 50%, o número médio de infrações também cresce 50% e o de acidentes triplica”, afirma Alberto Sabbag, diretor da Abramet.

Um estudo da Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, no estado americano da Pensilvânia, mostra que conversar no celular quando ao volante reduz a concentração de um motorista em até 37% levando-o a cometer erros semelhantes aos ocorridos quando se dirige alcoolizado. O estudo usou imagens de ressonância magnética do cérebro para documentar o efeito do simples ato de ouvir o interlocutor durante uma ligação.


Mensagem de alto risco

Se telefone e direção já formam uma combinação de risco, digitar uma mensagem ao celular potencializa o perigo. Quem tenta fazer isso tem que tirar as mãos do volante, se concentrar em um teclado minúsculo e ainda pensar na elaboração dos textos. Uma pesquisa realizada pelo instituto britânico Transport Research Laboratory (Laboratório de Pesquisas de Transporte) analisou 17 motoristas com idades entre 18 e 24 anos. Os resultados mostraram que o tempo de reação dessas pessoas foi 35% mais lento do que se estivessem totalmente concentradas na condução do veículo.


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“Eu não acreditava que me sairia mal no teste. E me saí. Eu me distraí muito e optei por prestar atenção no percurso em vez de na conversa, mas não fiz bem nem uma coisa nem outra. Não dá para falar ao celular e dirigir ao mesmo tempo.” Marília Zaro Guiffa, 20 anos, estudante

Comparado ao efeito produzido pelo álcool (para o limite de bebida alcoólica na Inglaterra, que é de 80 miligramas de sangue), este chega a ser quase três vezes menos perigoso, uma vez que a substância reduz o tempo de reação em 12%. Para os usuários de maconha, a redução no tempo de reação foi de 21%. Os testes, conduzidos por especialistas da RAC Foundation, que trabalha com segurança dos motoristas, foram realizados em um simulador de direção e mostraram que, ao digitar uma mensagem no celular, o controle de pilotagem do motorista no momento em que precisa realizar uma ação é 91% pior.

A professora Mariana Diniz Queiroz, de 27 anos, por sorte, é prova viva dessa manobra de risco. Bateu o carro em uma caçamba de entulho enquanto dirigia e enviava mensagens no celular. “Fui fazer uma curva à direita e não vi a caçamba que estava na esquina. A batida foi feia e me assustei bastante. Meu Fiesta ficou com a dianteira bastante amassada.”

Para José Montal, diretor científico da Abramet, a melhor recomendação é desligar o celular ao assumir o volante. “Quando se guia um automóvel, entre 90% e 95% das informações necessárias para administrar riscos estão relacionadas à visão,” diz. Ao desviar o olhar para atender o celular ou tocar o visor do aparelho, o motorista inicia um vôo cego. “O celular distrai tanto que dificilmente o motorista consegue se lembrar do que aconteceu no trânsito, às vezes esquece até por onde passou”, afirma Montal.

A prática mostra que só a maior fiscalização pode modificar um mau hábito, a propósito do que ocorreu com os cintos de segurança, que passaram a ser obrigatórios em 1998. No âmbito individual, impõe-se uma mudança cultural para que a ansiedade em se comunicar não se sobreponha à própria sobrevivência e à segurança de terceiros.

Celular cá, cela lá

Desde dezembro de 2007, usar celular ao volante pode dar cadeia na Inglaterra. A regra anterior era similar à nossa, mas as autoridades perceberam que as punições eram insuficientes para desencorajar motoristas a usar o celular enquanto dirigiam. Agora, quem insistir na prática pode ser condenado a pelo menos dois anos de prisão. As regras também stabelecem que a promotoria pode condenar os infratores por homicídio culposo e punir os motoristas com a pena máxima prevista pelo país, a prisão perpétua, caso seja confirmado que o veículo foi usado como uma arma.




FONTE: http://quatrorodas.abril.com.br/reportagens/celular-ao-volante-417400.shtml

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL - BRASIL